terça-feira, 4 de setembro de 2007

Só de sacanagem

"Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta a prova? Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas, que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais!
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz!
Meu coração está no escuro, mas a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. "Não roubarás!", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! (...)
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesto ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!
Dirão: "Deixe de ser bobo! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!" E eu vou dizer: "Não importa! Será esse o meu Carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos... Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambau!
Dirão: "É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!" E eu direi: "Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!"
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!"
(Texto da Elisa Lucinda, divinamente recitado pela Ana Carolina no CD com o Seu Jorge)

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