"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores.
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.
Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário... Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste... As ostras felizes riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão..." Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava." - Rubem Alves
Lembrei desse texto do Rubem Alves lendo o delicado blog http://parafrancisco.blogspot.com/. Este blog foi criado por uma mãe, após perder o pai do seu filho nada menos que 2 meses antes de Francisco nascer. A intenção era, de alguma forma, aliviar a dor da perda registrando toda a história de amor que os pais de Francisco viveram. Um meio de apresentar ao filho o pai que ele não teve a chance de conhecer.
Uma dor que, como a ostra, Cristiana soube transformar lindamente em pérola...
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Um comentário:
Eu também tenho esse blog nos meus favoritos! Adoro o que ela escreve...
Um dia eu te conto minha teoria do complexo de ostra.
Beijos e bom fim de semana
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